19/11/2010

BAILADO ENTRE LINHAS - CARLOS VIEIRA (5º)


E entrei de novo... entrei no quarto... a porta gemeu como quem chora de puro rancor, eu deixei-me cair no chão, no tapete estavam marcadas as garras do animal revoltado contra o mundo, o chão riscado, ferido pelos desgostos de quem se deixa absorver por ele...

As janelas choram gotas de água secas, marcadas no reflexo dos pensamentos que revejo e volto a rever, lá estás tu, dançando na chuva, eterna criança mulher, sorris para o céu como quem espera ser beijada por um anjo... rainha dos pensamentos, de fantasias, de sonhos, de sentimentos...

O piano toca, ou parece tocar, vejo o pó levantar-se das teclas num bailado de vultos magestosos, chora e soluça, conta histórias de mistério, de paixão, de fogo, amor, solidão...

E eu escrevo, escrevo os pensamentos que correm na esperança que os venhas ler, nos sonhos, nas fantasias, que me venhas conhecer...

E eu... eterno escravo da mente... penso, afundo-me e nado, no mar infinito que é a imaginação...
Rio, salto, choro, gemo, sinto, vivo...
De sentimentos vive a escrita...
De escrita vivem os meus sentimentos... é sede... é fome... é vício... necessidade de alimentar a alma para que não volte a cair no precipício.

Cada nota do piano, cada choro da janela, cada sorriso teu aos anjos me inspira sentimento, essa dança, esse bailado dos magestosos vultos que voam, será outrora o romance das nossas almas que ecoam, num quarto vazio, que irá estar cheio de esperança, nas paredes caiados, histórias de tumultos passados, um que escrevia, à luz daquilo que sentia e outra que sorria, por gotas de chuva molhada, que dança, que rodopia, à espera de ser beijada.


Carlos Vieira

03/11/2010

SAUDADE - CARLOS VIEIRA (4º)

 
 
Saudades vão, saudades voltam,
Como ondas de espuma que contra a costa se revoltam,
E recolhem para o mar,
Para outrora voltar,

São como o predador,
Que sai à rua para caçar,
Que corre atrás da presa
Ele a correr tropeça,
E quando ela lhe foge,
Volta sempre a atacar.

Saudades são como o rio,
Que a rocha quer desgastar,
Tanto insiste, tanto insiste,
Que acaba por furar.

Saudade de ti, estrela,
Que brilhas no céu da minha mente,
Saudade de ti, cor da minha aguarela,
Lágrima que me escorre pela cara lentamente.

Saudade de ti, predadora,
Que atrás da presa corre
Saudade de ti, ó rio
Que pelas veias me escorre.

E saudade predadora,
Para me caçar voltou,
E saudade, rio que a desgastar demora,
O meu coração furou.



Carlos Vieira