19/01/2011

ESTILHAÇOS - CARLOS VIEIRA (8º)



Escrevo... refugio-me deste mundo que me rasga a alma em pedaços de silêncio profundo... escrevo esqueço-me do caminho amargo pelas pedras de calçada, nas ruas da solidão... escrevo... desabafo cada gota de sangue caída no chão... cada marca de cada ferida... das garras da vida cravadas no meu fraco coração...

Sinto-me um trapo, deitado mo chão, amarrotado... meu coração um farrapo... contorcido, esquecido no peito, ancorado...

Minha alma quer gritar bem alto rugidos de raiva e de dor... tenta em vão ser ouvida neste imenso mar sem cor... e saem fracos murmúrios... leves... sussurrados, suprimidos, estilhaçados... fracos pedaços de alma soltos a voar no brilho de olhos cansados... perdidos... ignorados...

Pedaços de alma voam... fracos... sem brilho... até que caem nas tábuas podres desta vida, embatem no chão com toda a força, num último esforço, em vão, de se fazer ouvir... quebram-se em mil pedaços, no chão da vida os estilhaços da minha alma a ruir... e vão caindo... devagar... devagarinho... como bate o coração... sem esperanças... sem forças... lentamente se desgasta... devagar... devagarinho... deixo-me cair no chão... amargos suspiros frios... estilhaços que a vida arrasta...




Carlos Vieira