Hoje o dia está brilhante,
Sinto o desejo de escrever,
Para o passado reviver,
No infinito distante.
Poemas quero desenhar,
Cada traço no coração a pulsar,
Cada palavra a despontar,
Em cada veia, uma flor a desabrochar.
Hoje quero recordar,
Aqueles tempos de criança,
Em que podia voar,
Entre sorrisos de esperança.
Quero voltar a viver,
O passado no presente,
Quero ver-me a crescer,
Sonhando vir a ser gente.
Quero aquela fita no cabelo,
Os pés descalços na Terra,
Andando feliz pela Serra,
Vendo como o mundo é belo.
Sentir o vento de braços abertos,
Chegar a casa e sentar-me à lareira,
O pães a crescer, de baixo de panos cobertos,
E eu sonhando voar, como as fagulhas da fogueira.
As pedras na parede,
Contavam histórias de embalar,
Satisfaziam-me a sede,
De ter alguém com quem falar.
Cada pedra tinha um nome,
Tinha histórias de vida para contar,
A maior tinha filhos com fome,
Uma família de bocas para alimentar.
Todos os dias me falava,
Que não tinham o que comer,
E eu ia à socapa,
Devargar, sem ninguém me ver.
Tirava um pedaço de pão,
Acabado de cozer,
E ia dá-lo à Maria,
A pedra mãe que sabia sempre o que dizer.
E ela ficava contente,
E fazia-me companhia,
Ficávamos as duas junto à fogueira quente,
Ouvindo histórias de magia.
Tenho saudades da Maria,
E da fogueira com fagulhas a voar,
Vou pôr nas malas alegria,
E preparar-me para lá voltar.
Alice Paiva