Sinto o frio lá fora
Vejo a chuva cair como um anjo que chora,
O cheiro da terra molhada
Transporta-me para uma recordação
De tempos de riso e gargalhada,
Que me aquece o coração.
Num abrir e fechar de olhos
Sustenho a respiração
E mergulho num mar de sonhos
Sinto, vivo, bebo, respiro, cada segundo, cada emoção.
Cheira-me a pão
A figos e nozes,
Lembro uma menina de saia de trapos,
E na pequena mão, uma saca de farrapos,
Correndo por montes e vales como gazelas velozes,
Deixando pegadas dos pés descalços no chão.
Pegadas que percorro agora com o sentimento,
Deixando a alma correr no passado ao sabor do vento,
Saboreando e aproveitando cada momento.
Lembro aquela menina inocente,
De olhos brilhantes e cabelo louro,
Corria nos montes despreocupada e contente,
Via o futuro com um reflexo de ouro.
Tinha nos lábios um sorriso de alegria
De amor para dar, de esperança,
No coração a magia,
A inocência de ser criança.
E gostava do vento, do Sol e da tempestade
Deixava-se levar na aventura,
Perdia-se no tempo,
Ria, chorava, corria, saltava,
Mas aquilo que demonstrava, sentia-o de verdade.
Era uma criança inocente,
De coração transparente,
Não escondia sentimentos,
Vivia à flor da pele todos os bons momentos.
Aproveitava a vida,
Sem pensar no amanhã, vivia o presente,
Fazia o próprio destino,
Brincava com a sorte como quem faz a roda e dá o pino
Não tinha medo de errar, ao cair, seguia em frente.
Era eu aquela menina
Da saia de trapos,
Que vivia o presente,
Com a saca de farrapos,
Corajosa e valente.
Alice Paiva