06/10/2010

O CÉU CONTINUA CHOROSO - CARLOS VIEIRA (2º)

Acordei... é de manhã... dizem que o céu está limpo, que o Sol brilha, que está bom tempo, mas eu só vejo nuvens negras, escuras, deprimidas e deprimentes, tal como a vida que levo. Para mim o céu continua a chorar, como a minha alma... eternamente...

Não vieste, não te tenho, nem sei se algum dia te vou poder ter nos meus braços, envolver-te em carinho e ver a tua aura brilhar, mais forte ainda que o Sol escondido por detrás destas nuvens tristes, os lençóis dos anjos chorosos, desesperados como eu... por vezes pergunto-me se existe mesmo Sol lá ao longe no reflexo da janela, ou se é apenas mais uma ilusão distante como o dia em que tu chegas e pintas de cor a minha vida com a tua aguarela...

Agarro-me à garrafa, vazia como a minha alma, como o meu coração, como a minha esperança de viver... as lágrimas de outros choros secaram, talvez tenham achado que já não fazias falta aqui, minhas eternas companheiras nesse peso de viver, quem me dera poder-me evaporar daqui como uma lágrima triste e sozinha... e molhada... sim, sinto-me molhado, encharcado, submerso em humilhação, cobardia, deprimência, fraqueza... sentimentos de alguém cobarde... o mesmo alguém de sempre... aquele verme rastejante que se deixa afundar no desespero, que já chegou aos confins do mais profundo oceano e continua a afundar-se na infinidade da tristeza...

Abria a fresta dos cobardes, mas está vazia... até a minha esperança dissimulada se esvaziou... o buraco é cada vez mais fundo e as cordas para subir partem-se a cada batimento do meu coração, despedaçado pelas lágrimas que continuam a embater no chão...

Pergunto se algum dia viràs e a pergunta ecoa no ar... o tapete já rompeu com tantas garras marcadas, garras do bicho que continua escondido dos olhos impiedosos do mundo... a resposta é um silêncio sinistro... ouço a garrafa rebolar pelas tábuas de madeira, até ele segue o seu caminho, apenas eu fico aqui parado, sozinho... deixo-me adormecer mais uma vez na esperança que o tempo deixe de correr, que a Terra se decida a deixar de girar e que... num dia perfeito que parece nunca vir... o meu coração deixe de bater...


Carlos Vieira