E o meu coração bate... bate... bate... aflito, farto de estar preso nesta gaiola sem saída que eu sou... inquieto... quer sair, quer ser livre... dá fortes pancadas no meu peito como quem me crava uma faca cá dentro... bate... bate... bate... cada vez mais fraco, porém não pára e continua a bater... mas porque é que tanto insistes? Porque é que não desistes desta ânsia de viver? Não te entendo, não consigo perceber, como é que ainda resistes e não te deixas morrer?
Ah... já só consigo suspirar... porque é que não me ensinas a ver a vida a brilhar? Não resisto... quero chorar... quero beber... quero cravar as garras no tapete até rasgar, quero ver as gotas pela garrafa a escorrer, quero perder-me no mundo, quero ser o cobarde imundo que se deixa adormecer... quero-me esconder dos olhares frios, penosos... quero gemer súplicas de animais raivosos... quero entregar-me ao vício... quero deixar-me cair até ao fim do precipício... quero arrancar de raiva os cabelos, um por um caídos no chão... quero afogar em licor os flagelos deste desesperado coração...
Quero gritar bem alto até ecoar na solidão,
Quero-me afundar no mundo, sem fundo, no mar profundo da escuridão,
Quero ser um vagabundo, um pobre sem coração,
Quero-me arrastar como um verme, sem me levantar do chão...
Quero ter aquela essência, aquela loucura
Quero ser a decadência, o pranto, a amargura...
Digam-me que isto não é viver... que não sei o que estou a dizer... que exagero... que desespero e que de nada me vai valer... pois... por uma palavra que fosse, eu arriscava morrer...
Carlos Vieira
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